domingo, 26 de setembro de 2010

A Maria.

A Maria trabalha na minha empresa. Tem 34 anos e 3 filhos pequenos, de dois companheiros diferentes. A Maria é daquelas mulheres com ar de miúda durona e não extremamente simpática à partida.

A Maria casou a semana passada com um  outro colega da empresa (um tipo muito porreiro e pai dos últimos dois filhos) e, para surpresa de todos, largou o nome de solteira para manter o do marido. Já estavam juntos há alguns anos e agora decidiram casar e renomear todos os filhos.

A Maria disse-me a semana passada que vai deixar de trabalhar connosco para voltar a estudar. Agricultura orgânica.

A Maria e o marido partilham os dias de licença de maternidade/paternidade entre si. Ora fica ele em casa alguns dias por semana, ora fica ela (claro que têm a sorte do Governo Austríaco disponibilizar tal possibilidade).

A Maria vai voltar a estudar e o marido fica a trabalhar e a tomar conta dos filhos alguns dias por semana. A Maria vai deixar de ganhar dinheiro por um ano para tentar realizar um sonho. A Maria disse-me que já não terá mais filhos. Porque está contente com os que ela e o marido têm outros planos também a nível de carreira.

A Maria e o marido passam dias (e provavelmente noites) complicadas. Vê-se bem pelas olheiras profundas que por vezes desfilam.

A Maria e o marido são fantásticos. É assim que o amor devia ser. Um apoio constante. Um não anular das partes.

E é um amor assim que eu gostaria um dia de encontrar. Porque tenho medo do amor cego, do amor obsessivo, do amor limitante, do amor doentio. Porque não quero deixar de ser quem sou, nem impedir que o outro seja.

E escrevo o mesmo em relação aos pais que não colocam os filhos no infantário para não sofrerem (os pais) com a separação. Ou os pais que não motivam os filhos infelizes a procurarem uma vida melhor para os terem sempre por perto.

Os meus pais nunca me disseram para eu voltar porque me quererem por perto. Se sofrem com a distância? É muito provável. Mas é preferível terem-me perto, infeliz, ou longe e realizada e a viver e a lutar pela vida?

Viva a Maria! Porque o amor não deve ser 1+1=1,5 mas sim 1+1=3 ou 5 ou 100 ou 1000.

Um beijo com saudades.

1 comentário:

Calíope disse...

Concordo duas vezes! Com pessoas que nos apoiem nas nossas decisões e nos ajudem a ser melhores pessoas para nos verem felizes e porque ficam felizes de nos verem assim. Com os pais que nos dão asas para voar em vez de no-las cortarem e é o que tu dizes, por n quererem ver os filhos longe, asfixiam-nos... Felizmente eu não conheço este último caso na primeira pessoa.