quinta-feira, 21 de junho de 2012

Para o H. e todos os que se seguem...

Como explicar-lhe que tudo isto faz parte da vida?
Como dizer-lhe que também o Pai, a Mãe, os avós e os tios, que também nós passámos por esses anos difíceis - e eu não há tanto tempo assim?
Como fazê-lo entender que não, a vida nunca irá ser fácil, a meu ver é cada vez mais difícil, mas que nos tornamos cada vez mais fortes e capazes de a enfrentar, a ela e aos obstáculos que teimam em aparecer-nos à frente?
Como dar a entender que não basta querer ser o melhor para sê-lo efectivamente?
Como abrir-lhe os olhos e fazê-lo compreender que até aqui tudo era permitido porque de certo modo até tinha graça - e caramba, crianças são crianças e coitadinho do menino, há que dar-lhe amor e mimo incondicional não vá tornar-se um adulto complexado e traumatizado por não ter recebido tudo dos pais - mas que a partir de agora o mundo não é a casa onde habita, mas um lugar maior e mais complexo, cheio de regras, e só quem as respeitar conseguirá lograr com sucesso?
Como fazê-lo acreditar que as boas notas não são para trazer para casa para descansar o pai e a mãe que lhe hão-de dar 10 euros pelo sucesso, mas que serão O método usado para avaliar o seu desempenho - na escola e no final de contas na vida - de quem não o conhece?
Como dizer-lhe sem o chocar que até aqui era o filho pródigo porque cantava as musicas todas em inglês, mesmo sendo essa uma língua estrangeira, mas que a competição é mais renhida e há quem fale duas e três línguas assim de berço, raios parta a globalização e os casais multi-culti, e será com esses que terá de competir por um emprego?
Como abrir-lhe os olhos e motivá-lo a querer ser mais e melhor sem o assustar e "aborrecer" quando na realidade só tem de abrir os olhos e ver ao seu redor que toda a sua família é exemplar e tem todos os motivos para querer algo melhor para ele do que o desemprego ou um emprego e uma vida medíocre?
Mais complicado ainda, como demonstrar-lhe, sem ser tarde demais, sem se ter perdido anos e anos entre escolhas e indecisões e brincadeiras de criança mimada, que mesmo que ele ache que a culpa do seu insucesso é de fulano, citrano ou beltrano, geralmente dos coitados dos pais aflitos, no final de contas não contam a culpa ou os culpados, não interessa apontar dedos, e o maior perdedor de todos será ele e só ele porque os anos passam tão depressa, tão ou mais depressa do que a rapidez narrada pelos adultos?
Como sossegá-lo e dizer-lhe que depois destes amigos, amigos de sempre e para sempre e toda a eternidade, virão mais - e quiçá maiores e melhores - de diferentes lugares e com historias para contar e vivências para partilhar?
Como fazê-lo acreditar que porra pah, a mãe e pai são uns chatos, mas que caramba, mais frequentemente que não, têm razão e só querem o melhor para ele? (mesmo)
Mais difícil de tudo, como motivar uma criança a evoluir para adulto, como explicar-lhe que ser adulto é mais do que poder sair à noite, fumar, beber e apalpar umas miúdas, que isso no fundo é giro mas que se não for bem gerido pode transformar-se no resto da sua vida, que as escolhas são dele e de mais ninguém e que com a idade deverá vir responsabilidade maturidade, e que as queixinhas e as atribuições de culpa são coisas de criancinhas ou de adultos idiotas?
Como fazer isso tudo sem ter um ar paternalista, mas apenas com o desejo de ver alguém inteligente e com capacidade usar finalmente esses instrumentos para evoluir na vida, e não apenas para mostrar aos amigos?

Também eu sou mimada. Também eu tive uma infância mais ou menos fácil e uma adolescência em que achava que todos estavam contra mim. No entanto as minhas motivações sempre estiveram lá: ser motivo de orgulho para os meus pais e irmãos que têm tido um percurso, a meu ver brilhante, e... saltos altos. :)

Acabou o recreio amigo, acabaram-se as desculpas, agora é arregaçar as mangas e trabalhar!

Só um conselho: mantém os olhos no futuro e nos teus objectivos mas nunca te esqueças do teu passado, das tuas raízes e de quem te fez ser o que serás no futuro.

Um beijo com saudade!

1 comentário:

Joana Rodrigues da Costa Mestre disse...

As atitudes valem por mil palavras...