Aventuras Africanas parte II

O último sinal de vida que dei foi há mais de uma semana atrás, no Cairo, antes de partir rumo ao Sudão. Muitas coisas ficaram por escrever sobre essa viagem. É impossível recriar certos momentos, partilhar certas emoções e "visões". A raiva que se sente por se ser enganada e não haver nada que se possa fazer para reverter essa situação (o que também acontece facilmente em qualquer repartição pública, CTT, operadora telefónica, etc. em Portugal, mas pelo menos eles não nos pedem um suborno directamente). Ser a única mulher "branca", de cabelos descobertos e loiros no meio de uma praça cheia de Muçulmanos. Visitar uma exploração de aves cujas "novas instalações" são um barracão de pedra descoberto, partilhado com centenas de pombas que esvoaçam por ali (querem uma explicação pormenorizada de onde vem a gripe das aves???).
Tirei algumas fotos, mas há coisas impossíveis de retratar. Não posso chegar e dizer "deixem-me tirar uma foto enquanto comemos puré de favas com as mãos todos do mesmo prato (é que isto lá de onde eu venho é um escândalo)."

O caso mais irónico/felizardo/representativo da teoria de que "cada um de nós tem a sua hora" foi passado exactamente no avião para o Sudão. Como não conhecíamos a operadora aérea, fomos com o bilhete comprado pela Sudan Airways, como perceberam no post anterior. 2 da tarde e não tinha sequer tomado o pequeno almoço. Não conseguia sequer pensar em comida tal era o meu pânico de voar naquele avião. Quanto começámos a andar os meus olhos arregalaram-se imediatamente, engoli em seco e olhei para o meu colega a pensar "eh pa, olha que interessante este barulho das rodas, diz-me que já o ouviste antes numa das tuas 4 mil viagens, é que eu cá nas minhas 500 ainda não tinha ouvido". Ele olhou para mim e riu dizendo "mmm... que barulho estranho e pouco agradável". Obrigadinho pela resposta à minha pergunta telepática!!! Imaginem uma mala de viagem com as rodas empanadas a chiar muito alto pelo corredor do aeroporto. Agora multipliquem o barulho por 100 e pensem que as rodas têm de ser capazes de resistir a não sei quantas toneladas (peso do avião)... nestas alturas a minha tendência é sempre colocar o telemóvel perto de mim e pensar duas vezes se devo ligá-lo ou não para "dar uma palavrinha" à minha família...

.Não o liguei!

A viagem correu bem... sem dúvida GRAÇAS A DEUS... 5 dias depois 100 pessoas morreram num avião do mesmo modelo e da mesma companhia, a viajar para o Sudão... Coincidência?? Sorte?? Destino?? O que quer que tenha sido, OBRIGADA!

Um beijo com saudades...