quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Fabuloso!!!

Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de País para País, em busca de pão e de um futuro melhor.
Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência olham para a vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito de viver. Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos, de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no sofrimento, no vegetar fisiológico duma existência condicionada por milhentas restrições. Curvam-se aos conceitos estabelecidos de há muito, aceitam por bom o que já estava enraizado quando eles chegaram e deixam-se ir assim, humildes, apagados, submissos, do berço ao túmulo – a ver, pacientemente, a vida que vivem outros homens mais felizes. Nem todos, porém, se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhentas, existe apenas, como o resto do mundo, para fruição duma minoria. Mas eles, mordidas as almas por justificada ambição, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais às que desfrutam os homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente a continente, de hemisfério a hemisfério, em busca do seu pão.
Ferreira de Castro in Emigrantes (1928)
Um beijo com saudade...

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