quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Triste, mas verdade…

É impressionante o ódio que varre as caixas de comentários: coisas do estilo "esse maricas estava mesmo a pedi-las", "a culpa só pode ser da bichona e não do miúdo, coitadinho". Os jornais vão permitir este tipo de lixo até quando?

I. As caixas de comentários da internet, de blogs ou de jornais, são como as casas de banho públicas: com raras excepções, é lixo atrás de lixo . É a versão internática do bom selvagem, um bom selvagem protegido pelo anonimato e com uma vaga noção de gramática. É o Homem sem qualquer tipo de filtro ou de controlo. O resultado não podia ser bonito. E, em Portugal, temos de adicionar um outro elemento à fórmula: o ressentimento, aquela raiva mui tuga que vem lá de dentro, viscosa, húmida, indignada, sempre indignada, e que chega a berrar. Quando se mete atrás de um teclado, o tuga revela toda a sua essência de gajo ressentido. É assim todos os dias por essa net fora. E, de vez em quando, surge um caso que baixa ainda mais o nível. O caso Carlos Castro está a ser um desses casos.

II. Perante isto , eu faço minhas as palavras de Ferreira Fernandes: "não há por aí um advogado que queira acabar com esta sensação de impunidade?" . Sim, impunidade. As pessoas sentam-se no seu cobarde anonimato, e deitam cá para fora todo o lixo que têm acumulado na cabecinha. A onda anti-gay que anda por aí assusta, porque revela que boa parte da sociedade - além de ter vagas noções gramaticais - tem também uma vaga noção de moral: as pessoas não discutem o assassínio em si mesmo, mas o facto de o rapazinho gostar de mulheres. Aliás, todo o discurso da família e amigos do rapaz vai nesse sentido. É impressionante como não se fala da morte de Carlos Castro, mas sim do facto do "Rogério" gostar de mulheres. Vamos lá parar um pouco: não acham que é mais importante falar do acto imoral (que é matar uma pessoa) do que dos hábitos sexuais? A honra do macho é mais importante do que a questão moral do assassinato? Por favor, digam-me qual é o código moral e religioso que permite esta inversão de prioridades.

III. Este ódio internético assente nesta inversão moral assusta, porque esta gente anónima pode ser minha vizinha. O senhor Aníbal, do 2.º esquerdo, deixa de ser a pessoa educada que segura o elevador e vai para a net declarar "morte aos maricas"? A Dona Laurinda deixa de brincar sobre o cabelo do Jorge Jesus e vai para a net declarar que "esse maricas corrompeu o garoto"? Claro, Laurinda, a culpa, como toda a gente sabe, é sempre dos maricas.

IV. Para os jornais, existe aqui uma questão de fundo: é para isto que a net serve? É para isso que os jornais têm caixas de comentários? É isto a prometida democracia directa que vinha a cavalo da internet, esse tremendo instrumento que ia dar poder aos indivíduos? O espaço público por excelência, o jornal, não pode ter um esgoto privado a um canto.

Daqui.

1 comentário:

Bruno Pascoal disse...

O gajo que escreveu esse post também é um verdadeiro atrasado mental. Recebo a newsletter do Expresso e cada vez que vejo um post desse homem só penso em mandá-lo para sítios feios. E tudo começou com a bela peça que escreveu acerca da greve dos enfermeiros.

Ele É um comentário de casa de banho pública. Este último post dele só serviu para adicionar a hipocrisia às suas "qualidades".